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Foto do escritorSamantha Lêdo

Ditador morto 'ressuscitado' com IA em campanha eleitoral causa polêmica na Indonésia

“Eu sou Suharto, o segundo presidente da Indonésia”, diz o ex-general num vídeo de três minutos que já acumulou mais de 4,7 milhões de visualizações nas redes sociais.



Embora convincente à primeira vista, o sucesso da gravação ocorreu justamente pela surpresa: a imagem do ex-presidente, que governou o país por 32 anos, foi feita com inteligência artificial (IA). O verdadeiro Suharto, cujo legado de desenvolvimento econômico foi marcado por corrupção e abusos de direitos humanos, morreu aos 86 anos em 2008.“Como membro do Golkar, tenho muito orgulho de Suharto porque ele desenvolveu com sucesso a Indonésia”, escreveu Aksa no X (antigo Twitter). “Ele trouxe muito sucesso. Devemos respeitar e lembrar de seus serviços”, continuou ele. A publicação do vídeo com a imagem do ditador tem como propósito incentivar o voto dos eleitores no candidato apoiado pelo partido. A ação, porém, também recebeu críticas pelo uso da voz e rosto de um homem morto, indicando que a atitude parece ser “moralmente errada”, especialmente para propaganda política.

— Deepfakes podem influenciar muito uma eleição, [desde a] maneira como a campanha é feita até os resultados — disse Golda Benjamin, gerente de campanha para a Ásia-Pacífico da Access Now, à CNN. — O perigo está em como se espalha rapidamente. Um deepfake pode facilmente alcançar milhões em segundos, manipulando eleitores.Conforme publicado pela CNN, vídeos com o uso de deepfake não são raros na Indonésia. Após críticas públicas, a equipe de campanha de Subianto admitiu ter usado software de IA para dar ao candidato uma feição mais “fofa e animada” nas redes sociais para atrair jovens eleitores, que representam a maioria dos votos. Em outra gravação, crianças geradas por inteligência artificial foram usadas pelo partido em um comercial de TV, contornando as regras que proíbem crianças de aparecer em campanhas políticas.

Sucessor de Widodo

Além de Subianto, os outros dois candidatos à presidência, o ex-governador de Jacarta, Anies Baswedan, e o ex-governador de Java Central, Ganjar Pranowo, possuem 24% e 19% de intenção de votos, respectivamente. Prabowo Subianto se beneficiou do apoio de Gibran, prefeito de Surakarta de 36 anos e filho do ainda popular presidente em exercício, cujas políticas levaram a Indonésia a um crescimento de 5% após a pandemia da Covid-19. Para analistas, essas eleições são como um referendo sobre a continuidade do caminho tomado por Widodo.

Com isso em mente, o atual ministro da Defesa se comprometeu a continuar o programa de desenvolvimento e construção de infraestrutura de Widodo, bem como suas políticas de nacionalização de recursos, que visam transformar o maior produtor mundial de níquel em um ator-chave na cadeia de suprimentos de veículos elétricos. É esperado, porém, que Subianto permaneça fiel à estratégia dos “não alinhados”, movimento iniciado pela Indonésia, e que tenha que alcançar um delicado equilíbrio diante das rivalidades regionais entre China e os EUA.

A crescente probabilidade da ascensão de Subianto à presidência preocupa pelo possível retrocesso nos avanços democráticos. ONGs acusam o ministro de ordenar o sequestro de ativistas pró-democracia durante a última fase do regime do ditador Suharto, no final dos anos 1990. Se eleito, o mundo terá “outro líder populista de direita com um passado problemático”, observa Andreas Harsono, pesquisador indonésio da Human Rights Watch.


Valor Econômico



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