A calamidade no Rio Grande do Sul não é nenhuma surpresa. As graves consequências humanas, sociais e econômicas das enchentes que atingem o estado no extremo sul do Brasil foram previstas em um estudo encomendado pelo Governo Federal.
Há cerca de dez anos, com o relatório nas mãos, a Presidência da República, então comandada por Dilma Roussef, decidiu simplesmente engavetá-lo. De quebra, os dirigentes que haviam contratado o estudo foram solenemente demitidos.
A informação foi apurada pelo site Intercept Brasil em reportagem assinada por Tatiana Dias: O relatório “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima”, encomendado em 2014 pela gestão de Dilma Rousseff, do PT, apresentava resultados dramáticos. Elevação do nível do mar, mortes por onda de calor, colapso de hidrelétricas, falta d’água no Sudeste, piora das secas no Nordeste e o aumento das chuvas no Sul.
Contratado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, na época comandada pelo economista Marcelo Neri, em 2014, o estudo custou R$ 3,5 milhões, que equivalem hoje a cerca de R$ 7 milhões.
O Brasil 2040, é fruto de um cuidadoso trabalho que envolveu mais de 30 pesquisadores de diferentes universidades brasileiras. Justamente no ponto relacionado aos recursos hídricos o estudo é assinado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), via Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura, sob a coordenação dos professores Eduardo Sávio Martins e Francisco de Assis de Souza Filho.
A antecipação de cenários em função das mudanças climáticas é o que se espera de governos responsáveis e diligentes. Porém, há um porém. Como bem relatou a reportagem do Intercept Brasil, havia uma hidrelétrica no meio da conversa.
A gigantesca e bilionária obra da hidrelétrica de Belo Monte estava em pleno andamento. Foi aí que a previsão do estudo de possíveis estiagens na região norte do Brasil provocou as entranhas do Governo. Afinal, o estudo apontava que a Belo Monte poderia ter sua capacidade de produção de energia reduzida em 50% com a projeção da seca.
Vejam com atenção o que se deu após uma reunião na qual as conclusões do estudo foram apresentadas ao Governo Federal: Rousseff fez uma reforma ministerial e trocou Marcelo Neri por Roberto Mangabeira Unger.
A equipe da Secretaria de Assuntos Estratégicos foi inteiramente substituída, inclusive os responsáveis pelo estudo, Sérgio Margulis e Natalie Unterstell. O projeto “Brasil 2040” foi encerrado e as informações deixaram de ser públicas.
Detalhe, a reportagem do Intercept Brasil só conseguiu acessar o estudo através de um site antigo (substituído, mas ainda ativo) do Ministério do Meio Ambiente no qual foi possível visualizar o Brasil 2040.
Veja aqui o Brasil 2040 – sumário executivo.
Focus.jor
Comments